quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Aos mestres desconhecidos


Maria de Nazaré, ao dar a luz seu primeiro filho, foi assistida por uma parteira.
Não encontramos esta informação em Lucas, o dublê de médico e historiador que escreveu um evangelho que leva o seu nome na capa.
Também em nossos registros de nascimento não figura o nome do obstetra ou do pediatra que nos tiraram dos ventres de nossas mães. Na verdade, nem sequer se menciona a existência de suas funções.
Informações óbvias nem sempre aparecem nos documentos.
Nossas vidas são feitas de silêncios, mas não de ausências.
Palavras que nos disseram, mas quem as disse?
Imagens que vimos, mas não lembramos que vimos.
Cenas, coisas, pessoas que nos tocaram. Quem? Onde? Quando?
Talvez você saiba, mas eu não sei o nome da minha primeira professora, mas eu tive uma.
Não sei também os nomes dos meus colegas (nenhum! tragédia!) no antigo primário, mas eu os tive. Se você sabe, celebre.
Não sei qual foi a primeira historia de Natal que me contaram (quem me contou?).
Assim mesmo fui moldado por minha primeira professora.
Sou o que meus agora anônimos coleguinhas me ajudaram a ser, quando brincaram comigo ou me empurraram.
E se nos alongássemos nesses exercícios, notaríamos outras ausências nas varandas de nossas memórias, com pessoas reais cuja importância para nós cabe reconhecer e agradecer.
Mesmo que não nos escutem.
Para que sejamos mais humildes.

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